Michel Foucault considera que “o poder não pode ser obtido, conquistado ou perdido. Ele é exercitado.” Sendo assim, conclui que o poder não pode estar restrito ao Estado, na medida em que não é só o Estado que está em exercício e mostra que o poder foi construído a partir das micro-relações. Para isto, o autor utiliza um modelo horizontal de visualização da sociedade no qual estão as diversas instituições que possuem poder, ou seja, micro-poderes em torno do poder do Estado.
Existem inúmeras esferas de micro-poderes que atuam na sociedade contemporânea, como por exemplo, o trabalho, a escola, a família, a religião... Isto pode ser visualizado quando pensamos no comportamento dos indivíduos nestes diversos âmbitos: a maneira como um homem age no ambiente de trabalho não é a mesma maneira como ele age no ambiente familiar, por exemplo.
Cada micro-poder tem suas regras próprias, tendo como objetivo final, adaptar os indivíduos às regras sociais. Portanto, essas microrrelações de poder ultrapassam o poder do Estado, ao mesmo tempo em que são necessárias à existência dele, já que docilizam e adaptam o homem, facilitando o poder estatal.
Cada micro-poder tem suas regras próprias, tendo como objetivo final, adaptar os indivíduos às regras sociais. Portanto, essas microrrelações de poder ultrapassam o poder do Estado, ao mesmo tempo em que são necessárias à existência dele, já que docilizam e adaptam o homem, facilitando o poder estatal.
Sendo característica de todos os poderes a presença do poder disciplinar (este caracterizado pela necessidade de ser localizado em um tempo e espaço; ser dotado vigilância; e ser produtor de um saber) percebe-se como eles conseguem eficazmente ‘’doutrinar’’ a vida do homem. Pela vigilância, há maior controle; pela produção de um saber, maior eficiência da execução deste poder. Dessa forma, mesmo nas situações das mais cotidianas, pode-se perceber o controle dos diversos poderes que permeiam a vida: um professor, em suas aulas com hora marcada, na sala definida, consegue ver todos seus alunos ao mesmo tempo, e pela vigilância, os controla melhor. Pela experiência do dia-a-dia, ele acaba atingindo meios mais eficazes de exercer o poder sobre seus alunos, observando as maneiras pelas quais eles reagem de acordo com os limites e regras impostos.
Sofrer as microrrelações de poder, passar por essa permutação de poderes, é o que, segundo Foucault, forma o indivíduo. Os indivíduos servem voluntariamente, pois, além de nem perceberem esses micropoderes sobre eles, o que mostra a eficiência destes sobre um poder soberano centralizado somente no Estado; os indivíduos estão também acostumados a servir, na medida em que foram criados dentro de uma sociedade disciplinar que desde sempre os educou com base no respeito às regras.
Conforme as sociedades modernas foram se formando, e as pessoas passaram a se individualizar e diferenciar mais, tal adaptação à submissão se tornou uma vontade e uma necessidade, por parte dos indivíduos, de serem submissos. Uma nova forma de poder, mais eficaz no controle, começou a ser aplicado pela instituição mais forte, o Estado, então: o biopoder, que tem como objetivo a manutenção da vida. Para isso, entretanto, o Estado tem que estar a par da vida dos indivíduos, premissa que legitima tanto a submissão das pessoas a ele como o controle, por parte do Estado, sobre a vida delas.
O Estado, então, passou a ter o dever de proteger e garantir a vida de sua população. Para isso, definiu que deve controlar todos os âmbitos da vida delas para se manter a par de seus problemas, conseguindo, consequentemente, criar políticas públicas que sejam eficazes. Declaração de imposto de renda, Censo, e outras medidas não passam, então, de formas de controle do Estado, que através da sua aproximação com os indivíduos, traz melhorias a estes, fazendo com que estes o legitimem.
Conclui-se, portanto, que no mundo contemporâneo a sociedade é uma sociedade disciplinar, educada em meio aos poderes disciplinares, presentes em diversos âmbitos da vida humana, que têm por objetivo tornar os indivíduos dóceis a este poder supremo do Estado e que este, para legitimar sua supremacia, mantém a maioria dos indivíduos satisfeitos com a sua conduta através da realização de obras que sejam boas a estes e que foram, porém, fruto do controle exercido sobre a vida delas. Sendo assim podemos analisar a vida de um indivíduo como fruto da influência dos micro-poderes e também do controle do Estado sobre ela. Por exemplo: Uma criança sofre influências do poder da família na sua formação e também a do poder da escola. Mais tarde, sofre influencia da Igreja e depois das normas de seu emprego. Esse indivíduo presta contas ao Estado, deixando-o “participar” de sua vida para que seja beneficiado por ele e, com tudo isso, se torna acostumado a seguir regras e a ser submisso ao Estado, que é visto como “bom” para ele, mesmo que não seja. É dessa forma que o Estado garante que seus cidadãos sejam ideais, ou seja, sejam dóceis e submissos ao seu poder.